01 dezembro 2015

implosão

Não tenho portas nem janelas. Não tenho fendas, sombras, interrupções ou correntes de ar. Não há vértices ou esquinas. Não sopra o vento nem entra a luz. Não sobra o espaço. Não sai o eco.

Não há música ou silêncio. Só o ruído. O ruído. Repetitivo, insistente, monocórdico, incessante. O ruído. E o eco. E o fumo. Doentio. Maléfico. Tóxico. Nocivo. Viciante.

Não há sal na erosão da pele. Não há sol. Não há sul. Não há norte. Não há dor na frigidez da carne. Não há sangue. Não há morte. Não há distância. Não há extensão. Não há saudade. Não há corrosão.

Não roo os ossos que não os alcanço. Não rasgo os nervos ou puxo tendões. Não esventro entranhas. Não cavo crateras. Não ceifo emoções.

E os músculos que não se movem. Inflexíveis na perda de elasticidade. Teimosos. Dementes. E o cinzento que escurece. Enegrece, sujo, cansado.

Silencio-me.

Impludo.

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